O futuro não se prevê, constrói-se, recordava o Professor João Ferrão numa conferência realizada no ano passado no Porto sob o tema "PLANNING IN TIMES OF UNCERTAINTY".
Dizia, na altura, que num momento de particular dificuldade a nível nacional e global urge, de facto, equacionar os meios adequados para construir colectivamente respostas para os problemas das nossas cidades.
Decorrente da sua experiência governativa, o Professor João Ferrão recomendava também que se levasse mais "inteligência colectiva" para os processos de decisão, apostando nos instrumentos que estão relacionadas com a democracia deliberativa de forma a combater duas culturas perniciosas: a 'ingenuidade tecnocrática' e o 'autoritarismo iluminista'.
Acrescentava ainda que a experiência de aprofundamento da democracia deliberativa [acrescento também, da democracia representativa] nas nossas autarquias estava longe de ser devidamente estimulada e trabalhada.
A reunião da assembleia municipal da passada segunda-feira e a forma como a autarquia tem conduzido o processo da Parceria para a Regeneração Urbana do Parque da Sustentabilidade demonstram, de forma clara, a concepção conservadora e redutora que por aqui se tem do papel dos cidadãos na vida colectiva e a crença absoluta na 'racionalidade tecnocrática'.
A circunstância atrás referida permite tirar várias conclusões.
Que a construção do futuro é entendida, sobretudo, como um exercício de fé e por isso a racionalidade dos processos e das soluções não pode ser discutida.
Que existe uma diferença significativa entre o discurso (‘governação participada, em que todos os seus parceiros serão interlocutores indispensáveis’; ‘as sociedades mais prósperas colocam os cidadãos como o centro da sua atenção das suas políticas’) e a prática.
E que num momento difícil como o que atravessamos, de grande contenção de recursos financeiros, a cidade se pode dar ao luxo de dispensar e desperdiçar o enorme capital cívico que tem vindo a demonstrar possuir.
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