(publicado Diário de Aveiro)
Hoje em dia quando se começa a discutir o funcionamento e a organização das actividades culturais, não é preciso esperar 5 minutos para se falar
Obtive as seguintes respostas, que me apetece comentar.
a) “Tecido de malhas de variável largura para apanhar peixes, etc.”
Ficamos então a saber que rede é um tecido de malhas variáveis
b) “Tecido de arame (para vedações, etc. )”
Esta definição merece-nos todo o cuidado! Será que quando uns falam em rede para apanhar peixe, os outros agentes estão a pensar em tecido de arame para encerrar ideias mais ousadas ou espíritos mais rebeldes?
c) “Leito balouçante feito de malha e que se suspende de dois ganchos nas extremidades”
Não tenho dúvidas que em muitas reuniões, daquelas bem chatas, a bendita palavra “rede” nos transporte, não para a apanha de peixe, muito menos para qualquer galinheiro, mas sim para um leito balouçante feito de malha. È talvez o significado da palavra que reúne mais adeptos…
d) “Totalidade dos circuitos e dispositivos de comutação que permitem a ligação entre os equipamentos terminais de dados”
Nestas reuniões da cultura começa a ser normal (felizmente) a participação de pessoas da tecnologia que, ao ouvirem falar em rede, vibram com a ideia de os circuitos e dispositivos de comutação permitirem a ligação entre os equipamentos e os terminais de dados. Seria pois fundamental que no espaço da cultura assim fosse.
e) “Conjunto de linhas-férreas, telegráficas, telefónicas, etc.”
Estou convencido que só uma pequena minoria ainda sabe as linhas de caminho de ferro
f) “Cilada”
Agora é que a coisa começa a complicar! Quando alguém quer simplesmente pescar, ou repousar num leito balouçante, outros podem interpretar a mesma palavra como cilada. Começo a perceber porque é tão difícil os portugueses entenderem-se.
g) “Compilação de coisas tecida pela intriga”
Julgo que não podia terminar melhor. Uma rede poder ser, não uma forma superior de colaboração e entendimento, mas sim uma compilação de coisas tecidas pela intriga., Justifica cientificamente porque é que existe uma incompatibilidade lusitana, vertida na língua que nos une, de trabalharmos em conjunto.
É por isso que qualquer que seja a definição de rede ela depende de nós, e os “nós”, depende de quem os saiba e queira dar, ou seja de Nós.
Só nos resta ir tentando dar esses nós, aqui e ali, onde houver pontas de imaginação e de criatividade soltas. Quanto mais de Nós atarem essas pontas de cidadania, mais malhas da rede se vão fazendo, e talvez um dia, quase sem dar-nos por ela, a rede ampare a nossa queda nos dias em que não nos sentirmos felizes.
A semana passada, ao sair de casa perto da meia noite, para ir ver Galerias senti-me apanhado por essa rede, e gostei!
Este homem que pensou
Com uma pedra na mão
Transformá-la num pão
Transformá-la num beijo
Este homem que parou
No meio da sua vida
E se sentiu mais leve
Que a sua própria sombra
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