MUSEU DE AVEIRO - MAIS UM CASO DE NEO-COLONIZAÇÃO
artigo de opinião da AMUSA - Associação dos Amigos do Museu de Aveiro
(publicado hoje no Diário de Aveiro e disponível em https://www.facebook.com/Amusaveiro)
'Como outras capitais de distrito a população de Aveiro soube preservar, ao longo de séculos, a sua identidade e memória. Estão inscritas nas águas e na faina do mar e da ria, no labor quotidiano da terra fertilizada pela natureza e trabalho humano, na iniciativa empresarial das suas gentes e na defesa intransigente dos valores de liberdade e de cidadania. Soube, igualmente, restaurar o património que faz parte do acervo nacion
al de relíquias e de objectos de arte registados no espólio do Museu de Aveiro, constantemente enriquecido por acção de cidadãos aveirenses que associam o edifício à memória da Beata Santa Joana, padroeira da cidade. Alterar os sentimentos de pertença da casa onde repousa o seu túmulo e o espólio que a preenche constitui um gesto impensável já que pode ser entendido como um processo de profanação e roubo do edifício histórico do antigo Mosteiro de Jesus.
Ao longo dos anos a memória local tem sido repetidamente perturbada com questões de natureza territorial, política e administrativa, relacionadas com o modelo de gestão imposta pelos sucessivos governos do regime democrático relacionadas com a subalternização da cidade de Aveiro em relação à capital da região Centro do país. É a consciência colectiva que o recorda num processo avalizado por diversas decisões burocráticas que a pretexto da utilização de critérios político-administrativos relacionados com a boa gestão da coisa pública, continuam a esvaziar o sentimento de pertença e as mais-valias identitárias de âmbito sub-regional. Com isso o país vai-se empobrecendo, esbatendo traços das “culturas regionais” assentes no património diversificado e fecundo - ligado ao seu espaço de origem - de povos que nos deixaram um legado que importa preservar.
Se é certo que o acervo local faz parte do acervo patrimonial nacional que reforça o sentimento de pertença e de identidade portuguesa, também é verdade que a ofensa à “consciência comum” de grupos humanos e sociais muitas vezes representados por Associações de cidadãos, gera efeitos perversos no desempenho dos organismos oficiais responsáveis pela gestão da herança da coisa pública. Em período de crise os portugueses e os aveirenses já entenderam e têm dado o seu contributo para a recuperação do País e da sociedade a que pertencem. Aceitar mais medidas que não tenham em consideração o gosto e o sentimento de liberdade das gentes herdeiras de um passado afoito e trabalhador, de delapidação de património local, de transposição de modelos de gestão cultural ainda não testados ou mal explicados à população, de mobilidade excessiva de recursos humanos pode ser mal-entendido pelo cidadão comum. É-o, em particular, por todos aqueles que de modo voluntário se entregam à preservação do seu património e que não abdicam de o ter valorizado e gerido por critérios de exclusiva transparência, responsabilidade e competência. É isso que esperamos dos responsáveis políticos e dos serviços centrais que gerem esta fatia da herança nacional.
A AMUSA, ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO MUSEU DE AVEIRO, foi fundada, há anos, por um grupo de aveirenses amantes da sua terra para a defesa do prestígio e engrandecimento do MUSEU DE AVEIRO.
Saiu de um período de letargia mercê do empenhamento do recém-nomeado, mediante público concurso, Director do MUSEU DE AVEIRO, Dr. Paulo César Santos, que nesta Associação encontrou adicionais meios para levar a cabo a tarefa de colocar o nosso Museu em novos patamares de exigência, dignidade e valimento no mundo da Cultura.
Muitos dos elementos fundadores da AMUSA voltaram a encontrar justificação para um exercício de parceria construtiva que, no decurso de poucos meses, começou a dar frutos.
Por força de uma também recente reestruturação dos museus portugueses levada a cabo pelo actual Governo, o Museu de Aveiro deixou de reportar directamente com o poder central e ficou sob a alçada da Direcção Regional de Cultura do Centro (DRCC).
Face a isto, a AMUSA teve encontros com Deputados eleitos pelo nosso Círculo Eleitoral a quem manifestou os seus fundados receios de que o MUSEU DE AVEIRO viesse a sofrer com a sua despromoção institucional
Habituados que os aveirenses estão a acções deste género tendentes a remeter-nos para uma relação de subordinação face a suseranias coimbrãs, logo se temeu que o Director Paulo Santos, cujo trabalho de todos nós estava a merecer os maiores encómios, viesse a ser afastado das suas funções. E assim aconteceu. A AMUSA soube da sua destituição pela comunicação social. Paulo Santos, nomeado mediante concurso público para dirigir o nosso Museu com um mandato de três anos, vai ser substituído, a partir do próximo dia 1 de Setembro, por uma jurista provinda dos quadros da Câmara Municipal de Coimbra, ad hoc designada em regime de substituição. Esta jurista, nova directora do Museu de Aveiro, irá acumular estas funções com a de responsável pela supervisão da Equipa de Projecto do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha.
Todas as razões invocadas para justificar a substituição do Director Paulo Santos (dinamização de espaço para café/sala de chá, dinamização da sala de exposições temporárias, optimização do acervo museológico, etc., etc.) constavam do plano de acção que o mesmo Director tinha urdido e que entusiasticamente com a AMUSA partilhava.
Diz-se que até Dezembro será lançado novo concurso público para a nomeação efectiva de Director do Museu de Aveiro, e mais se acrescenta que a nova Directora poderá concorrer e “dar continuidade ao trabalho entretanto iniciado”.
É este o quadro de subordinação para o qual foi remetido o Museu de Aveiro.
E isto poderá comportar alguns receios adicionais. A começar pela redobrada vigilância da salvaguarda do acervo do nosso Museu, evitando “transplantes museológicos” empobrecedores do património aveirense.
E a acabar na defesa do estabilidade do quadro de pessoal do nosso Museu, competente, esforçado e dedicado'.
'Quo vadis' museu de Aveiro?
'Paulo César Santos, que assumiu em Dezembro passado a direcção do Museu de Aveiro (*), para um cargo de três anos e por concurso público, vai ser substituído por Zulmira Gonçalves, jurista especialista em recursos humanos da Câmara de Coimbra que irá também acumular as funções de supervisão da Equipa de Projeto do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha (Coimbra)'
http://www.terranova.pt/index.php?idNoticia=18309
http://www.diarioaveiro.pt/noticias/director-do-museu-de-aveiro-substituido-1-de-setembro
http://www.noticiasdeaveiro.pt/pt/26117/jurista-especialista-em-recursos-humanos-da-camara-de-coimbra-nomeada-diretora/
http://www.publico.pt/Cultura/seis-museus-da-direccao-regional-de-cultura-do-centro-passam-a-ter-tres-directores--1560309
(*)
Lembrando as razões da nomeação:
http://amigosdavenida.blogs.sapo.pt/702697.html
(foto: Diário de Aveiro)
Mais informações:
http://www.noticiasdeaveiro.pt/pt/26112/urbanizacoes-ameacam-edificado-ligado-a-historia-do-sal/
http://www.diarioaveiro.pt/noticias/antigos-palheiros-do-sal-venda-no-canal-de-sao-roque
(*)
[def.]
'conjunto de características (físicas e psicológicas) essenciais e distintivas
de alguém, de um grupo social ou de alguma coisa' (Porto Editora)