É uma insanidade o que se está a fazer ao Albói!
(artigo de opinião de Pompílio Souto, Diário de Aveiro, 27 NOV 2012)
É uma insanidade o que se está a fazer ao Albói!
Por omissão, ignorância ou interesses mesquinhos, vai-se infernizar a vida dos residentes para dar espaço à diversão noturna e oportunidade ao desmando, bebedeira e outras coisas ainda piores.
1)
Os Bairros antigos não são, apenas, "cenários" - bucólicos ou esquisitos -, nem os residentes "espécimes" - humanas extravagantes -, que se expõem à voragem parola de quem usa o recato e singularidade dos espaços para comportamentos indevidos ou fruições voyeuristas.
Os Bairros são comunidades, lugares e espaços, íntimos, ricos de uma vida com memória e laços com história. Tal como as famílias, gostam e sabem acolher visitas, mas rejeitam intrusos. E intruso é, não apenas quem se intromete, mas também quem lhe cria a oportunidade.
Num Bairro, o comércio e os serviços são os próprios disso – são apoios à residência – e a animação é a própria da vida que ai se faz – tem um carater gregário.
Obviamente que há festa, como em nossas casas, feita para os amigos e outros que presamos –, coisa que acontece nos dias e horas que nos convêm, ou, quanto muito, quando não nos perturbam.
Não perceber isto, é não perceber nada do que é básico na organização e gestão do espaço urbano e da vida das pessoas que o habitam: os cidadãos. Desrespeitar isto é uma violência, um disparte que todos pagaremos caro.
2)
No Albói a coisa – as esplanadas para a diversão noturna; o tráfego de atravessamento; a segmentação do jardim e os vários desrespeitos da lei –, faz-se em nome de um projeto estratégico e estruturante e transversal e incontornavelmente, dito – obviamente – "sustentável": o Parque da Sustentabilidade (PdS).
Para viabilizarem tal coisa – o PdS – a câmara a universidade e mais uns quantos, tiveram de se organizar numa "parceria" – "parceria para a regeneração urbana" -, e à volta deste conceito, num mesmo território, montaram um projeto que é a soma dos projetos do interesse de cada um.
À pala disso todos os envolvidos receberam algum do dinheiro que nós, e outros europeus, já antes tínhamos mandado para Bruxelas, dinheiro esse ao qual tiveram, obviamente, de juntar mais algum, neste caso apenas nosso e para somar ao(s) calote(s) (pelo menos de alguns).
Estava montada a cena: ninguém era – sozinho –, responsável pelo que andava (e anda) a fazer o parceiro, e a câmara, "coitada" – a mais causticada -, dizia-se "coberta" pelos doutos pareceres de uns e pelos silêncios coniventes dos demais, circunstância que a todos lá ia permitindo fazer o seu e passar, incólume, por entre os pingos da reclamação cívica.
Mas não passarão pelo julgamento das pessoas-de-bem, e da história. Quer os daqui que fazem, quer os outros que lhes dão a massa e o mando; quer os que se calam mas consentem, quer os que se demarcam mas se ficam: todos serão convocados.
Tudo isto e todos estes têm nomes e para memória futura, ou para quando o caldo entornar, e alguém vier a julgar os resultados – nalguns casos ilegais –, temo que o que prezo, quem estimo e os amigos envolvidos, não fiquem a salvo.
3)
Não chega que a Universidade – pela voz do Reitor, Prof. Doutor Manuel Assunção –, e que a ADERAV – pela do Eng.º Lauro Marques – se distanciem do processo e se demarquem de alguns resultados (*1). Não chega que outros parceiros (sem que se saiba), tenham desistido ou rejeitem a coisa. Não chega que, na Comissão de Acompanhamento do Projeto, o Prof. Doutor Carlos Borrego denuncie a insustentabilidade geral e específica, quer da iniciativa, quer de muitos das suas intervenções (*2). Não chega que um conjunto muito importante de cidadãos comuns (*3), ou com formação e desempenhos de referência (*4), venha a insurgir-se com o que se passa. É preciso que todos sejamos mais claros e consequentes.
Espera-se que todos esses – e mais os outros, a começar pelos parceiros e quem os apoia (*5) –, venham a público dizer o que se lhes oferece sobre o essencial do PdS e, muito concretamente, sobre o projeto de que aqui hoje se fala: o da instalação de diversão noturna no Albói.
Ao contrário doutros, penso que (pelo menos) alguns o farão, apoiados no bom senso ou na competência e, em qualquer caso, como expressão da verticalidade da respetiva postura cívica.
Veremos!
(*1), Ver Diário de Aveiro de 5/11/2012 e 15/11/2012, respetivamente
(*2), Em reunião da Comissão de Acompanhamento do Projeto realizada em 16/03/2012
(*3), Amigos da Avenida, Plataforma Cidades e muitos outros individualmente
(*4), Júlio Pedrosa, Carlos Borrego, Casimiro Pio e outros, nomeadamente, no manifesto de Plataforma Cidades de 28/05/2010.
(*5), Fernando Marques, da Junta de Freguesia da Glória; Artur Calado, da Inova-Ria; Vítor Torres do Clube de Ténis de Aveiro; Manuel Assunção, da Filarmónica das Beiras e Jorge Silva, da Associação Comercial de Aveiro. Bem como Vitor Correia, da Companhia de Teatro "O Efémero"; Eduardo de Sousa (Atita), dos Amigos do Parque; Paulo Rebocho, da Associação Água Triangular; Fátima Mendes, Florinhas do Vouga; Ordem Terceira de S. Francisco; Paulo Domingues, da QUERCUS Aveiro. E ainda, Nuno Vasconcelos, da IHRU; Gonçalo Couceiro, do IGESPAR. E finalmente, Ana Abrunhosa e – sobretudo -, Pedro Saraiva, da CCDR-C.
Não esquecendo, obviamente, os académicos e os investigadores (de algum modo ligados ao Projeto), nomeadamente, Artur da Rosa Pires; Liliana Xavier de Sousa; José Claudino Cardoso.
Mas também, Carlos Marques, do Conservatório de Música de Aveiro; Manuel Assunção, da Universidade de Aveiro e Lauro Marques, da ADERAV, que já se afastaram do projeto, ou se distanciaram de alguns resultados, mas nada disseram deste – o do Albói – que é, obviamente, o que maior impacto sociocultural terá, para os cidadãos, no curto prazo.
http://www.pompiliosouto.blogspot.com
Aveiro_20NOV12; Pompílio Souto; Arquiteto
Experiências
http://www.transparenciahackday.org/
Outras experiências
Custa-me perceber a razão pela qual a autarquia se recusa a prestar esclarecimentos aos moradores do Alboi quanto à obra que está a ser feita no jardim Conselheiro Queiroz (no âmbito do Parque da Sustentabilidade).
É que, de facto, tal como os moradores referem (*1), a obra não parece corresponder ao que foi deliberado na reunião do executivo em 14 Outubro 2011 que define o seguinte:
JARDIM DA PRAÇA CONSELHEIRO QUEIROZ - A versão actual substitui as zonas de pavimento preparadas para o atravessamento por zonas ajardinadas
(ver imagem abaixo e deliberação em *2)
Ou será que estou a ver mal?
JCM
Conceber uma cidade (do futuro) que possibilite a cidadania ativa
(concurso dirigido a jovens dos 17 a 21 anos)
http://www.etwinning.net/pt/pub/news/news/european_year_2013-_european_y.htm
http://files.eun.org/etwinning/17_21_years_en.doc
17 -21 anos de idade: Europia – Europe today and tomorrow encoraja os alunos a olhar para a sua própria cidade, fazer com que os cidadãos possam satisfazer as suas necessidades, e depois pesquisar a conceção das cidades no passado. Familiarizar-se-ão com conceitos alternativos para cidades (cidades educativas, cidades lentas, cidades para crianças) e com experiências sociais, tal como foram apresentados na tradição filosófica, na literatura, no cinema. Tendo por pano de fundo todas estas ideias terão de criar um produto da sua própria visão do futuro para uma cidade ou sociedade. Esta atividade está ligada ao tema do concurso Europia – Europe tomorrow: Designing a social utopia or a city of the future, that enables active citizenship“.
Divulgação de apelo da comissão de moradores do Alboi
'Consta-se que haverá uma estrada a atravessar o Largo Conselheiro Queirós (a autarquia não esclarece a comissão de moradores sobre a natureza da obra em construção). Perante esse facto propõe-se que amanhã, às 14 horas, se organize uma concentração no Largo'
Extraordinary projects from BLDG / spmb (Karen Shanski e Eduardo Aquino)
by Hazel Borys
http://www.spmb.ca/
ou então
e ainda
e
ADERAV DEMARCA-SE DE GRANDE PARTE DOS PROJETOS DO PARQUE DA SUSTENTABILIDADE
Aveiro 2012-11-15 08:35:08
http://www.terranova.pt/index.php?idNoticia=19875
Parceira da Câmara de Aveiro no Projeto Parque da Sustentabilidade, para o qual propôs o restauro das igrejas de Santo António e São Francisco, a ADERAV vem agora a público assumir a crítica a grande parte das intervenções feitas no âmbito do projeto. Mesmo admitindo que o resultado final possa ser menos gravoso, sublinha que o processo tem sido marcado por um “estado de desgraça”.
A Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro interroga-se sobre os caminhos para onde caminha a sustentabilidade do Parque Infante D. Pedro. Diz que tem estado atenta ao que se está a passar com os espaços verdes da cidade de Aveiro e teme que depois da retirada do verde do Bairro do Alboi, o projeto siga com a “decadência do Parque Infante D. Pedro”.
A crítica aborda a demolição do ringue do parque como “a gota de água” e sai em defesa de um espaço que a pretexto da ponte pedonal poderá destruir as ligações da população à cidade. “No final não haverá ponte que ligue os aveirenses a esta autarquia que insiste em delapidar património”, salienta a ADERAV em nota divulgada na última noite.
Para a associação é curioso que o “processo de degradação” esteja rotulado com a palavra “sustentabilidade” quando “os espaços verdes desta cidade atravessam um período cinzento”.
“Os meios para atingir os fins, que se vislumbram distantes, são lamentavelmente desastrosos, como se passassem elefantes por uma loja de porcelanas e sem que os fundamentos de tais decisões sejam devidamente explicitadas aos cidadãos aveirenses, legítimos detentores do direito de usufruto de tais espaços”.
Sobre o parque Infante D. Pedro, a ADERAV diz que o “pulmão verde” da cidade “está canceroso”, com “amontoados de inertes”, “lama”, “tubos”, “caminhos intransitáveis, vedados ou simplesmente fechados ao público”, “bancos partidos”, “lago sujo e desinteressante”, num cenário distante “dos tempos áureos de Lourenço Peixinho”.
Mesmo que no final o espaço fique mais cuidado, a ADERAV realça os prejuízos de um tempo que ficará na memória dos turistas que visitam a cidade nesta altura.
A organização norte-americana Project for Public Space identifica quatro critérios-chave a ter em conta no desenho do espaço público: a acessibilidade e conexões, conforto e a imagem, os usos e as actividades, e a sociabilidade (ver esquema em www.pps.org/reference/grplacefeat/). A destruição do ringue e do parque infantil do Parque D. Pedro vai afectar de forma decisiva as duas últimas dimensões, isto é vai retirar usos essenciais à vida daquela área nuclear do parque e uma das razões que leva crianças, jovens, adultos e idosos ao Parque. Acreditar que estas peças podem ser ‘transladadas’ para outro lugar e produzir o mesmo resultado parece-me (no mínimo) arriscado.
Acontece que, pelo que é possível perceber da proposta, esta destruição aparenta não ter razão de ser porque a ponte pedonal aérea (cuja necessidade é amplamente questionada) não é aí que irá ser implantada (vejam bem a proposta). Perdemos um campo de jogos e um parque infantil a troco de nada... De nada não, este investimento de utilidade muito duvidosa custa-nos mais de um milhão de euros.
JCM
A propósito das dúvidas sobre as intervenções no Parque D. Pedro (operação integrada no Parque da Sustentabilidade), em particular o desmantelamento do histórico campo de jogos, procurei obter alguma informação sobre a proposta da Ponte Pedonal que liga o Parque D. Pedro à Baixa de St. António (ver powerpoint disponível no site da CMA *). Pela análise da informação disponível não é perceptível a razão que levou o projectista a propor a destruição do campo (e do parque infantil) já que este não colide com a implantação da futura ponte. Admito que haja uma explicação razoável, mas esta não é óbvia. Seria importante que a autarquia desse algumas explicações aos cidadãos sobre o assunto.
(*http://files.cm-aveiro.pt/XPQ5FaAXX33586aGdb9zMjjeZKU.pdf)
JCM
PS. A discussão continua em Pensar o futuro - Aveiro em 2020
Gostaria de prestar uma singela homenagem ao colectivo alargado de cidadãos que durante dez meses ofereceu o seu esforço e dedicação à nobre causa da defesa cívica da cidade e à crítica a um projecto que poderia ser lesivo do seu futuro, a construção da ponte pedonal no canal central.
O colectivo tem rostos e nomes que nem sempre aparecem e que merecem ser referidos e recordados. Cito: Alexandra Monteiro, Ana Catarina Souto, Ana Vasconcelos, Artur Figueiredo, Carlos Naia, Celso Santos, Clara Sacramento, Cristina Perestrelo, Filipa Assis, Gaspar Pinto Monteiro, Gil Moreira, Gustavo Tavares, Gustavo Vasconcelos, Ilídio Carreira, João Martins, Joaquim Pavão, Jorge Miguel, Manuel Oliveira de Sousa, Manuel Pacheco, Manuela Cardoso, Margarida Cerqueira, Maria Manuela Melo, Mariana Delgado, Paulo Lousinha, Paulo Marques, Sara Biaia, Sara Ventura da Cruz, Sónia Fidalgo, Teresa Castro, Tiago Castro, Violeta Ferreira, as centenas de cidadãos que estiveram presentes nos eventos públicos, os 1.711 das redes sociais, os 3.532 que subscreveram a petição, todos os outros que silenciosamente partilharam as nossas preocupações.
Nestes quase dez meses de actividade, este colectivo trocou, entre si, mais de 1.200 mensagens, enviou milhares de mensagens, organizou quatro sessões públicas presenciais e dezenas de reuniões preparatórias, protagonizou uma petição pública, produziu um parecer técnico-jurídico enviado às instituições com responsabilidades no ambiente e ordenamento do território, desenvolveu uma petição enviada ao primeiro-ministro, ministro da economia e ministra do ambiente. Falou com dezenas de interlocutores institucionais. Por último, contou com a notável (e decisiva) colaboração cívica da Doutora Fernanda Paula Oliveira na produção do memorando jurídico que identificou ‘fundadas dúvidas quanto à legalidade do processo e das decisões em causa’.
O esforço desenvolvido deixou vários frutos. Descobriu-se o enorme potencial mobilizador da memória colectiva, em particular no que se refere ao canal central da ria (‘o coração da cidade’), mostrou-se a importância e obrigatoriedade de criar consensos prévios e de envolver os cidadãos nas decisões sobre o futuro da cidade, e exigiu-se uma postura crítica sobre a necessidade de sensata aplicação de recursos públicos. Mas fez-se mais, mostrou-se o enorme poder dos grupos de cidadãos com causas, organização, postura fundamentada e persistência.
O levantamento do ‘cerco’ no Rossio termina um ciclo, os cidadãos desafiaram o destino e (contra todas as expectativas) conseguiram mudá-lo. Se todos aprendermos bem a lição podemos tornar a fazê-lo. É só querer!
Abraço
JCM
Balanço de quatro anos de activismo cívico por Aveiro
Dinamização ou participação nas seguintes iniciativas cívicas:
Blogue Amigosd'Avenida e Mailing-List Pensar o futuro de Aveiro
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Se esta Praça fosse minha - 250 anos da cidade
Manifesto pela Animação e Qualificação do Espaço Público
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Apelo pelo Parque da Sustentabilidade
Contra o Alboi Cortado ao Meio
Contra a Ponte Pedonal no Canal Central
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Pensar o futuro - Aveiro 2020 & Grupo Facebook - Pensar o Futuro - Aveiro 2020
Amigosd’Avenida, quatro anos de activismo cívico por Aveiro.
Obrigado pelo seu envolvimento!
http://amigosdavenida.blogs.sapo.pt/
https://www.facebook.com/AmigosdAvenida.Aveiro
Can social media promote a “meaningful” relationship between communities and local authorities? Lessons from Aveiro, Portugal
José Carlos Mota & Gonçalo Santinha
World Town Planning Day Online Conference (6-7 November 2012)
http://www.planningtheworld.net/
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