PROPÓSITO. Um país sem estratégia tropeça sempre nesta questão - quais são os temas que nos devem preocupar. Sobre a questão que VPV levanta, admito que hajam outros valores patrimoniais de maior relevância histórica, sentimental, artística ou económica. E, como bem diz, não os temos sabido valorizar devidamente. Agora, num país que tem no turismo um dos seus sectores estratégicos tratar a colecção Miró - “a mais importante colecção monográfica de um dos mais importantes artistas internacionais do século XX, em Portugal” PCS - como uma questão menor ou um capricho de uma minoria parece-me estranho...
Estamos a viver um momento difícil da nossa existência colectiva. Assoberbados pelos problemas do presente (perda de rendimentos, aumentos de impostos e custo de vida) perdemo-nos a distribuir culpas ao passado, sem o querer perceber, e ficamos sem tempo para pensar o futuro. Neste salve-se quem puder que passou a ser a nossa vida, somos convidados a alimentar o pior de nós próprios – a inveja, a desconfiança e o individualismo. Isto faz com que nem sempre tenhamos o discernimento para analisar correctamente as questões (sem a devida contextualização ou estudo) o que conduz normalmente a (más) escolhas perante alternativas erradas ("preferem cortar no Miró ou na saúde").
Sobre a colecção das oitenta e cinco obras de Miró tenho alguma dificuldade em perceber porque é que perante este activo valioso (reconhecido por especialistas nacionais e pela leiloeira Christie's) não há um esforço de reflexão prévio sobre de que forma o conjunto de obras pode ser útil ao país - do ponto de vista social, cultural ou económico - num momento em precisamos gerar riqueza e que somos reconhecidos internacionalmente como um destino turístico cultural (“Lisboa a cidade mail cool da Europa” CNN, 27/01/2014) . Devo acrescentar que na semana passada foi divulgado um estudo do governo sobre o contributo da cultura e da criatividade para a internacionalização da economia portuguesa que recomenda "a montagem e exploração de sinergias entre a cultura, o turismo e a indústria do país" (estudo coordenado por Augusto Mateus - JN, 31/01/2014).
Portanto, tudo isto é revelador da nossa imensa fragilidade colectiva para pensar o futuro. Foi a necessidade de termos tempo para o pensar devidamente o futuro (deste espólio) que me levou a apoiar e a divulgar a petição pela Manutenção em Portugal das obras de Miró (do património BPN) - http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=joanmiro.
JCM
PS. Se quiserem acompanhar o trabalho do movimento cívico que se organizou em torno desta questão consulte LINK
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