[síntese do artigo publicado no Diário de Aveiro 15Março10]
'Em recente intervenção na Assembleia Municipal (AM), debrucei-me sobre as mudanças ocorridas no Teatro Aveirense (TA), em Dezembro do ano passado.
O Conselho de Administração passou a ser presidido pela anterior directora artística e actual Vereadora da Cultura, que escolheu para lhe suceder alguém que nunca teve a experiência de dirigir um teatro ou de ser programador cultural num espaço com características semelhantes. Mas não é um facto negativo em si mesmo, até porque outro tipo de experiências dão lastro a esta aposta.
O projecto cultural do TA não se reduz, ou não se deve reduzir, à sua programação. A amplitude de intervenção de um teatro municipal, que é de uma capital de distrito, deve ser multidisciplinar e interferir directamente com a vida cultural do município.
Ao serviço público de cultura deve estar aliado um serviço educativo consistente e relacional. O trabalho com as escolas e com o movimento associativo reveste-se de importância decisiva na educação de novos públicos, no desenvolvimento da dimensão artística, em especial dos jovens, na potenciação do fenómeno cultural na construção de uma rede concelhia.
No que respeita à programação, ela deverá espelhar, com clareza, a estratégia da sua direcção artística, em articulação com a política cultural defendida pela Câmara. Neste momento, assiste-se a uma programação, diria, mais alternativa, em relação a um passado recente. O próprio formato comunicacional também aponta nesse sentido, dirigindo-se preferencialmente a públicos mais específicos. Os ciclos de cinema, o teatro, a dança, os espectáculos de música, não são sucessos de bilheteira. Provavelmente, o objectivo primeiro nem será esse.
Importava, portanto, conhecer com detalhe qual a estratégia, porque ela afigura-se-me incoerente.
A uma programação mais alternativa está associada, no imediato, uma curta receita de bilheteira. Dito de outro modo, suportar uma política cultural que dê palco a novas tendências, a novos artistas, que não teriam oportunidades num circuito mais comercial, implica um custo significativamente mais elevado. São conhecidas as dificuldades financeiras do TA. A falta de investimento, por exemplo, ao nível do equipamento ilustra bem as dificuldades de gestão diárias com que se depara o teatro.
Ora, com um corte substantivo na subvenção da Câmara, em que pé fica a sua sustentabilidade financeira?
A minha preocupação, ao longo dos últimos anos, foi sempre com a promoção de uma cultura de avaliação do investimento público no sector cultural. A avaliação da eficiência e eficácia da despesa em cultura, que enfrenta, quase por tradição, grandes dificuldades na implementação de critérios baseados em indicadores de desempenho e análises custo-benefício, é fundamental. E diga-se que essas dificuldades são compreensíveis em face da natureza específica dos bens culturais. Mas não devemos esquecer a crescente pressão sobre o orçamento público camarário, que justifica e exige a valorização destas práticas de avaliação objectiva e independente.
A realidade regional onde se insere o TA é agora mais competitiva. Com novos espaços, nomeadamente, em Ílhavo e Estarreja, a estratégia deve virar-se para a cooperação. As redes nacionais onde o TA está inserido são importantes. No entanto, a articulação regional entre programações não só é fundamental do ponto de vista da dimensão da oferta, como também da racionalização dos recursos. Uma lógica concorrencial seria, obviamente, nefasta'.
Nuno Marques Pereira
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