Domingo, 23 de Maio de 2010
'O Bairro do Alboi não é novo. Surge em registos antigos, como sendo habitado por comunidades de mercadores ingleses. Daí a denominação "Allboy".
Nas primeiras décadas do século vinte era ainda intenso o movimento nos seus diversos cais (Paraíso, Moliceiros, Alboi e Canal Central), já que a ria continuava a ser usada como via de comunicação para transporte de mercadorias e passageiros.
Não nasci no bairro do Alboi. Mas foi para aqui que vim viver com 6 anos.
Por isso, este é o meu Bairro. (E seria também o meu Bairro se eu estivesse aqui a viver desde ontem!)
Nessa época todos se conheciam. Se chamavam pelo nome. Havia estradas de terra batida, sem passeios; roupa a secar fora de portas e a corar na relva do Jardim. O mastro da antiga ponte da Dubadoura engalanava-se na altura das festas. As caçoilas de chanfana, que era assada na Padaria(Flor do Alboi) pelas "Santas Martas" perfumavam as ruas. E havia jardins de jarros à beira da Ria.
A aldeia da roupa branca há muito que desapareceu.
Surgiu gente nova e novos serviços.
É bom!
Mas algo mais vai acontecer.
O Jardim, local de tantas brincadeiras e recordações, e que todos achávamos perpétuo vai chegar ao fim. Um dos ex-libris do Alboi vai terminar.
Vai reorganizar-se a circulação rodoviária (e construir-se uma estrada a passar no meio do Jardim!)e vão ser suprimidos (muitos) lugares de estacionamento.
Vão construir-se esplanadas.
Dizem que nos vão oferecer mais espaços de lazer.
Que nos vão devolver a Ria.
Que vão reabilitar a zona. trazer mais qualidade de vida.
Aborreço-me com os "velhos do Restelo" que criticam tudo o que se faz de inovador.
Recuso-me fazer parte desse grupo.
Acredito que para a cidade em geral, o Alboi ficará mais atractivo, visualmente mais agradável.
E para nós, que aqui vivemos ? Que escolhemos este local pelo que ele nos oferecia e não pelo que agora nos querem oferecer. Para nós ficará como?
Sei que muitos trabalharam arduamente neste projecto de forma a cumprirem prazos, dando o seu melhor. Inteiraram-se de muitas questões, é certo!
Mas, por acaso, lembraram-se de nós?
De como vai ser complicada a nossa vida sempre que chegarmos de carro a casa? Quando quisermos ir de carro ao centro da cidade? Ou ao Hospital, ou à Universidade?
De como vai ficar ainda mais comprometido o nosso descanso quando a noite chegar?
Se hoje os moradores se queixam de vandalismo, de desacatos, de ocupação selvagem dos passeios pelos automóveis (de não residentes) , de falta de sossego, madrugada fora.
Alguém acredita que vai melhorar?
NÓS NÃO!'
Maria Teresa Tavares dos Santos e Castro