'Algumas notícias publicadas recentemente na comunicação social (JN e DA) chamavam a atenção para o facto da autarquia aveirense na última reunião do executivo ter tomado, por unanimidade, a decisão de abater quarenta e quatro choupos na Avenida Lourenço Peixinho pelo facto destes ‘oferecerem perigo para a segurança de pessoas e bens’.
Não estando em causa a necessidade da autarquia agir tendo em conta o risco existente, talvez se justifique alguma reflexão sobre a metodologia utilizada para responder ao problema.
Importa referir, antes de mais, que esta é uma intervenção sem paralelo na história da cidade, pois pretende abater mais de 50% das árvores da sua avenida central, sem previsão definida de replantação, realizando-se num espaço de enorme valor simbólico e que tem vindo a ser penalizado por um significativo ‘processo de desqualificação e perda de atractividade’ (O futuro da Avenida Dr. Lourenço Peixinho, CM Aveiro, 2008).
Ribeiro Telles e Francisco Caldeira Cabral referem numa das suas obras emblemáticas (A árvore em Portugal, 1993) que as árvores urbanas desempenham um papel fundamental nas cidades pois ‘reduzem a poluição atmosférica, diminuem os níveis de ruído e a velocidade do vento e suavizam as temperaturas, para além do seu valor estético’. Algumas destas características apresentam uma relevância significativa para a Avenida pelo facto de aí terem sido detectados problemas ambientais graves nomeadamente elevados valores de poluição por partículas e monóxido de carbono, acima dos limites fixados pela legislação (Carlos Borrego, Colóquio ‘o futuro da Avenida Dr. Lourenço Peixinho’, Novembro de 2008).
Importa acrescentar que os Princípios Orientadores de intervenção para o futuro da Avenida, definidos recentemente pela CMA, consideram no domínio da ‘qualificação das intervenções’ (princípio 16) que ‘a arborização é considerada como fundamental como elemento estético, paisagístico, ecológico e de sombreamento e protecção do peão’.
Por tudo isto, não se pode deixar de lamentar que uma decisão desta natureza (e amplitude) seja tomada como uma medida sectorial, que vise resolver um dos problemas, sem equacionar outras dimensões igualmente relevantes, e seja executada como uma medida administrativa não tomando em conta a sensibilidade do assunto e a necessidade de informar previamente os cidadãos das razões ponderadas que suportam a drástica decisão.
A delicadeza do assunto e as críticas recentes à falta de informação em processos relevantes para o futuro da cidade (Praça Melo Freitas, Ponte Pedonal do Rossio, Via Rodoviária do Alboi, Parque da Sustentabilidade) recomendaria que este momento pudesse ser aproveitado para partilhar com os cidadãos os critérios e a razões que suportam esta delicada decisão.
Tendo em conta as dúvidas que a parca informação disponível suscitou em cidadãos e especialistas na matéria, seria importante que a autarquia desse a conhecer publicamente o estudo que justificou a decisão do abate das 44 árvores para que se possa perceber a sua fundamentação e os planos que tem preparado para minimizar a situação e futura replantação, para equacionar o seu desenvolvimento de forma gradual e, eventualmente, solicitar uma segunda opinião sobre esta matéria.
Finalmente, seria igualmente importante que a autarquia clarificasse a forma como pretende articular esta intervenção com o projecto de requalificação da Avenida, que se iniciou há quase dois anos'.
JCM
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