Sexta-feira, 22 de Outubro de 2010
[opinião, João Cardielos, arq.º]
Há assuntos que não merecem desenvolvimento e outros que, pela força das consequências culturais, não podem passar incólumes.
Acompanho este debate e verifiquei há pouco que a aceitação da solução encontrada pela C.M.A., para a Praça Joaquim Melo Freitas, é passível de aceitação e até de elogio por alguém, como já aqui aconteceu, ao ver enaltecido o sofrível compromisso entre a mensagem publicitária e o ensaio cenográfico de uma arquitectura que não chega a sê-lo!
(Relembro Magritte em . "Ceci n'est pas une pipe!")
Pois bem, como arquitecto, não só lamento o adiamento incompreensível do desmazelo urbanístico e urbano que representa o esventramento de um lugar referencial e central, da nossa cidade, como abomino uma alegada solução que se esconde por trás de uma máscara de mau gosto duvidoso e qualidade plástica questionável.
Aparentemente, só a neutralidade de um plágio visual por mimetismo pode acalmar os espíritos e serenar ou pacificar os ânimos.
Pois é precisamente nestes momentos que me recuso a acreditar que a pacificação possa ser o caminho certo.
O que está a acontecer não se trata de arquitectura, nem sequer de solução, pois isto é apenas um remendo de quem não sabe sequer fazer a opção, e assumir a necessária resolução, deixando-a ao cuidado de outros (entenda-se, promotores legítimos, convidados a intervir por quem tem o dever de encontrar as soluções e assim se isenta de o fazer), que apenas disso fazem opção comercial, evitando conflitos e polémicas em que, de outro modo, se veriam envolvidos.
Mimetizar arquitecturas de desenho discutível, em lugares de excelência, é pois artifício para menorizar os riscos e as polémicas. Eu diria, serenar o povo e, aparentemente, esse pode ser o resultado já alcançado.
Só lamento que assim se vilipendie, também, em simultâneo e de modo baixo, a verdadeira Arquitectura, que deveria reservar-se prudentemente para o debate certo em tempo certo.
As imagens fixam e retêm mensagens longas, enganam leigos construindo falsas promessas de futuros que não são nem devem ser legitimados, e que assim se vão vergonhosamente consolidando no imaginário dos mais incautos.