A Rua das Oliveiras é uma artéria discreta, com menos de 200 metros, cujo estatuto de rua de passagem já vem pelo menos desde o século XVIII: ligava então a Porta do Olival (no local onde está hoje o edifício da Cadeia da Relação) à estrada que seguia para norte, em direcção a Braga. O Campo do Olival, que abrangia uma área mais alargada do que a actual Cordoaria, evoca as raízes rurais deste planalto e deu origem ao nome do arruamento. Hoje, o seu edifício mais conhecido é o Teatro Carlos Alberto (TeCA) - integrado no Teatro Nacional São João (TNSJ) desde 2003 -, mas são três livrarias e três bares que se destacam a nível comercial.
Comecemos pelo TeCA: o primitivo teatro foi inaugurado em 1897, e construído na antiga horta do Palacete dos Viscondes de Balsemão. O espaço atravessou várias fases, iniciando a sua actividade com espectáculos populares e passando para as mãos do Estado, como Auditório Nacional Carlos Alberto, em 1980. Foi aqui que nasceu o Fantasporto, em 1981, e muitos habitués do festival de cinema fantástico recordam com saudade as sessões nocturnas na velha sala, que ultrapassavam facilmente a barreira das 5 da manhã. O género gore e a cinematografia de "série B" dominavam a programação desse horário, e as instalações, num estado próximo do decrépito, ajudavam a completar o ambiente, que o moderno "Fantas" tem vindo a tentar recriar, no Teatro Sá da Bandeira. Após a intervenção do arquitecto Nuno Lacerda Lopes, em 2003, o TeCA tornou-se numa sala moderna e funcional, onde cabem habitualmente as produções mais experimentais, a dança e a música da programação do TNSJ.
Mas a cultura desta rua também passa (e muito) pela literatura. O mercado do livro da cidade está concentrado na zona envolvente, e aqui encontramos a tabacaria e livraria Vieira, uma das lojas do alfarrabista João Soares (a outra é na Rua das Flores) e a Poetria, que de acordo com Dina Ferreira da Silva, a proprietária, se mantém como a única livraria na Península Ibérica especializada em poesia e teatro. Todos estes espaços têm algo em comum: quem está ao balcão tem tempo para aconselhar o cliente, e o folhear dos livros é visto com bons olhos.
"Por vezes, tenho cá o Germano Silva, o Hélder Pacheco ou o Júlio Couto, e sentámo-nos a tomar um café, a conversar", descreve Fernanda Vieira. Na sua livraria, imperam os clássicos da literatura portuguesa, poesia e teatro, maioritariamente em segunda mão. Mais perto do Largo Alberto Pimentel, está o alfarrabista João Soares, onde a escolha é mais alargada a nível dos géneros: romances de autores portugueses e estrangeiros, literatura infanto--juvenil e livros em língua estrangeira são as principais apostas. Os preços podem variar entre os 50 cêntimos e os 500 euros. A Poetria, aberta desde 2003, mesmo em frente ao TeCA (o que não é por acaso), tem tido um percurso marcado pelas dificuldades financeiras. Em 2006, foi feito um apelo para que cada cliente habitual comprasse um livro, de forma a evitar o fecho da loja. "Apesar dos problemas não terem terminado, a iniciativa deu alento e resolveu uma situação económica de emergência", admite Dina Ferreira da Silva. A empatia e afectividade são, nestas lojas, as grandes armas