Notícia Público, Pedro Rios
"Nuno Grande, programador cultural na área de Arquitectura e Cidade do Porto 2001, afirma que a acção da Capital Europeia da Cultura na reabilitação de algumas artérias da cidade potenciou o aparecimento dos novos negócios ligados ao lazer, cultura e à vida nocturna. O arquitecto e docente universitário recorda que durante a Porto 2001 discutiram-se muito as recuperações do espaço público, do comércio tradicional e da habitação. Para Nuno Grande, só a primeira foi alcançada. "Os comerciantes [da altura] não perceberam o impacto que as obras iriam ter", lamenta.
"Não é uma coincidência" que a "dinâmica" actual da Baixa aconteça em ruas que sofreram intervenções por parte da Porto 2001, argumenta. As obras de requalificação transformaram as ruas em espaços mais atractivos para os investidores, que, segundo Nuno Grande, "são pessoas sensíveis a este tipo de arquitectura, com alguma memória e que não disfarçam o carácter [original] de armazém". Mais: têm uma mentalidade diferente da do comércio tradicional, nomeadamente nos horários de funcionamento, mais adaptados à vida moderna, refere.
Críticas à Porto Vivo
O professor de Urbanismo na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto lembra o que aconteceu em "Tribeca, em Nova Iorque, no Soho, em Londres, e na Chueca, em Madrid", "bairros antigos que foram transformados numa lógica de apropriação por esta classe boémia". Nesses bairros, depois das lojas, dos cafés e dos bares, vieram novos moradores. E é neste ponto que o arquitecto considera que não estão a ser dados os passos correctos por parte da Câmara do Porto e da Porto Vivo - Sociedade de Reabilitação Urbana. "Se olharmos para estas cidades [quem habita aqueles bairros] é uma população jovem, sem compromissos familiares, famílias monoparentais, homossexuais ou [pessoas] em trânsito, que estão em Erasmus, por exemplo, que não se importam de não usar carro", diz.
As entidades responsáveis pela reabilitação urbana não perceberam ainda que é preciso "encontrar um novo perfil de habitante da Baixa", que não se coaduna com os preços praticados no mercado imobiliário, critica. Nuno Grande sugere que se recupere apenas "o essencial nas infra-estruturas", à semelhança do que estão a fazer os empresários do lazer, sem "procurar pôr as casas aos preços de mercado", deixando parte das obras nas mãos dos habitantes. Só desta forma, defende, se pode repovoar o centro da cidade e corresponder à "muita gente nova com vontade" de ali viver".
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