Estive esta semana em Coimbra na Direcção Regional da Cultura do Centro (DRCC) a consultar o processo de desclassificação dos antigos armazéns de sal (está disponível para consulta pública).
Do que pude constatar, a decisão de propor a revogação da classificação ocorreu na sequência de avaliação sobre a delimitação das Zonas Especiais de Protecção de vários imóveis classificados de Aveiro que a DRCC esteve a fazer recentemente (julgo que em 2012). No caso presente, e após essa avaliação, foi a própria autarquia de Aveiro que solicitou a revogação da classificação por ter entendido que esta era excessiva, pois condicionava a ocupação da zona urbana envolvente, e pelo facto de alguns dos imóveis em causa estarem muito degradados e na eminência de ruína.
Deixo dois comentários. Por um lado, não deixa de ser estranho que a alegação seja usada em causa própria (isto é, parte da responsabilidade do sucedido é pública, municipal). Por outro, que da tentativa de classificação como Imóvel de Interesse Público resulte, anos depois, o contrário do desejado, a sua destruição.
A partir daqui julgo que temos de evitar centrar a discussão na procura de atribuição da culpa e procurar encontrar novos caminhos. Que saídas então?
Um primeiro caminho poderia passar por perceber as razões que levaram à situação actual, algumas já apontadas por Alberto Souto, nomeadamente a crise da economia salífera e a dificuldade de investimento dos seus proprietários. No caso do palheiro municipal, talvez valesse a pena perguntar a razão porque se deixou chegar aquele estado um imóvel com tal importância e significado e já agora qual era o novo uso que lhe estava destinado. Mas outra das razões tem a ver a fragilidade da medida de preservação do património meramente através de classificação legal.
Um segundo caminho deveria centrar-se na procura de novas modalidades de valorização e preservação dos antigos armazéns de sal nas suas múltiplas dimensões. Admito que não é fácil responder a este desafio, mas talvez valesse a pena explorar duas vias. Uma que passe pela organização da memória do sal (fazer um esforço de registo, organização e divulgação do vasto espólio sobre o sal, envolvendo antigos marnotos, suas famílias, produtores e proprietários; dirigido a vários públicos, desde o escolar, comunidade mais próxima e visitantes), outra pela dinamização das actividades económicas, sociais e culturais que se têm vindo a desenvolver recentemente à volta do sal e da ria. Talvez estas duas vias ofereçam os programas e actividades necessários para dar uma nova vida aos antigos palheiros (envolvendo proprietários (*), antigos mestres da construção dos palheiros (**), novos empreendedores e, claro, a autarquia) ou para a sua reinvenção.
José Carlos Mota
(*) também neste caso com devido cuidado de registo de processo construtivo para memória futura
O conjunto de palheiros (armazéns de sal) localizados na zona Sudeste do canal de S. Roque encontra-se num estado lastimável, sendo que um deles, o maior, é propriedade municipal.
A eventual perda de classificação como Imóvel de Interesse Público não pode ter como consequência a destruição total dos palheiros e a edificação de um conjunto de imóveis sem respeito pela memória existente.
Importa, por isso, aproveitar o momento para lançar um debate público sobre o futuro dos armazéns de sal em Aveiro, sobre a forma como podemos recuperar a sua memória, ou mesmo recuperar fisicamente os que ainda subsistem, sobre qual o uso que deve ser dado ao palheiro municipal, sobre o papel desta reflexão numa estratégia global de valorização da ria de Aveiro e, finalmente, sobre a repercussão desta discussão no carácter da frente ribeirinha do Canal de S. Roque.
https://www.facebook.com/AntigosArmazensDeSal
JCM
Casa da memória 'construída' com os cidadãos de Guimarães (notícia do Público). Notável!
Porque é que as outras cidades portuguesas (Aveiro?) não começam também a organizar a sua memória colectiva?
JCM
"NESTA (the National Endowment for Science, Technology and the Arts) funded a pilot in Liverpool of this website, which allowed people to click on a map and then add their memories linked to a particular place".
"This makes people feel valued and that they have a voice – that history is something about people’s memories of small things, not big stories being handed down or something that is for museums only.
It allows people to feel part of a community: to talk about the changes, to feel a sense of belonging. It can be a learning tool for schools, giving the experiences of individual migrants.
They have found that their site is good for people in hospital – giving them something to do, assisting their recovery. It is also useful for community workers, who need to find activities for teenage boys. People have posted inspiring stories about how they started a charity or overcame problems".
Internacional
Aveiro
Media Aveiro
Cidadania
Actualidade
Cidades
Clube dos Amigos e Inimigos da Dispersão
Cultura e Criatividade
Mobilidade