[texto de opinião de Joaquim Pavão, publicado hoje no Diário de Aveiro]
Das razões:
Levam-me a escrever considerações várias. Leva-me ao desabafo o deserto que a esperança habita neste momento. A seriedade, os homens sérios, as questões sérias não serão um profundo contributo para a discussão democrática e construção plural. Sabe, Excelentíssimo Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, Dr. Élio Maia, eu não gosto muito da palavra sério. Apenas porque é vazia. Pode um homem sério ficar escravo de ideias vazias? Pode. Portanto a seriedade ou a falta dela não constitui por si só o fundamento para criticar a acção do cidadão. Na defesa de decisões politicas que nos afectam a todos, apenas a racionalidade na consciência social/política interessa. Penso que a utilização do gosto como principal aliado, refugiando assim a insensatez num discurso demagógico, leva a duas constatações presentes na entrevista publicada nos media. A irracionalidade e desrespeito pela verdadeira natureza que o cargo de presidente da autarquia acarreta. Esta verdade, raciocínio parece-me insofismável. Nesta altura de crise ideológica, social, económica profunda, enquanto cidadão, estas razões para além da afronta cívica e humana que a entrevista provocou, despoletou a constatação de uma imoralidade e como tal ingredientes catalisadores do meu desabafo.
Da democracia:
O Dr. Élio Maia parece confundir, deturpar e ostracizar alguns pontos inerentes a uma honesta postura e defesa do cargo que ocupa. O primeiro ponto gritante e imoral é, com a seriedade que lhe é apanágio, não enquadrar a crítica democrática e muito menos procurar construir com ela. Acredita que as eleições são uma espécie de carta-branca onde o voto confere uma atitude insensível ao votante. O Dr. Élio Maia, meu representante democrático, acha que não sou sério. Eu, o cidadão que tento ajudar, contribuir e pensar a cidade que habito. O Dr. Élio Maia diz que não está disposto a cumprir o mais básico requisito do cargo que lhe pago. Diz que só ouve se existir legitimação institucional. Sabe, Dr. Élio Maia eu votei, pago impostos, sou cidadão Português. Da última vez que tomei conta a democracia ainda estava em vigor. Que mais legitimação preciso? Os Amigos d’Avenida são cidadãos, meu caro Dr. Élio Maia. São legitimados pelo sistema que o nomeou nosso representante. A seriedade com que o afirma apenas aumenta a gravidade das palavras que profere. O Dr. Élio Maia não quer representar ninguém, quer institucionalizar os mecanismos democráticos. Sabe Dr. Élio Maia, neste país há 40 anos era assim. Se não encontra disposição para aceitar os aborrecimentos do cargo, seja sério Dr. Élio Maia. Se não sabe o que responder, como responder, se se sente perdido seja sério Dr. Élio Maia.
Da Ponte:
Depois de toda a racionalidade com que um grupo de cidadãos lhe apresentou dúvidas e questões, o Dr. Élio Maia vem apenas reafirmar que a construção de uma ponte é apenas uma questão de gosto. Mas fá-lo com seriedade, pois nada mais se pode esperar de si. O que é sério na barbárie que defende? O facto de estar disposto a excluir a racionalidade com que representa a cidade? Não entregar uma única ideia que possa defender a sua construção? Esbanjar o dinheiro (nosso) em prole do gosto do executivo? Lançar a ideia de 80% de contribuição europeia é uma espécie de dinheiro do vizinho? Caro Dr. Élio Maia é um homem sério que brinca com a nossa economia, hipoteca o nosso futuro e encerra em si qualquer hipótese de diálogo racional, pois com demagogia e “galinhas” não encontra um futuro para os cidadãos. Com seriedade, procura o recreio, um jogo de ignorâncias onde com o nosso dinheiro, o suor do nosso trabalho é utilizado em prole de um deserto de ideias, uma ausência de objectivos, ao sabor do gosto. Mais grave, quando o gosto é do executivo. Nem aí, o cidadão que representa entra. O Dr. Élio Maia, homem sério, responde desviando a atenção do que é importante. Ouve sem escutar, recebe sem de facto receber. Será por isso Dr. Élio Maia que lhe peço racionalidade, em vez de seriedade. Cumpra o mais básico fundamento do cargo que lhe pago enquanto cidadão.
.
Joaquim Pavão
.
[ler outros contributos]
1.
2.
3.