Respigos da reflexão feita sobre o futuro do Teatro Aveirense no Facebook
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Sobre futuro (do Teatro, da Cultura, da cidade)
' Eu acredito que se todos contribuirmos conseguiremos, mas por favor não podemos andar eternamente a dizer que não há nada em Aveiro e no entanto quando as coisas acontecem somos os primeiros a não comparecer... Falo na primeira pessoa do plural porque não me dirijo a ninguém particularmente, antes a um estado psicológico em que a maioria dos Aveirenses se encontra' [José Gonçalves]
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‘'SEPARAÇÃO de responsabilidades, RESPONSABILIZAÇÃO e TRANSPARÊNCIA sobre as decisões tomadas'. 'SEPARAÇÃO entre CMA, ADMINISTRAÇÃO do TA e DIRECÇÂO do TA. As PESSOAS TÊM de ser diferentes. Só assim podem ser atribuídas responsabilidades e as mesmas serem assumidas. Não pode haver o EU responsabilizador e o EU responsável. Não podem haver INTERFERENCIAS de pessoas de um destes órgãos na actividade dos outros’ [Pedro Coutinho]
‘RESPONSABILIZAÇÂO: De acordo com as responsabilidades atribuídas e clarificadas, deve ficar definido À PARTIDA quais os parâmetros a avaliar e as METAS a alcançar. Isto reciprocamente entre as partes. E os direitos que cada parte passa a poder exercer sobre a outra em caso de incumprimento das METAS’ [Pedro Coutinho]
‘TRANSPARENCIA: As entidades envolvidas, as responsabilidades, as metas, as avaliações efectuadas, as pessoas, DEVEM ser PÚBLICAS e em permanência ATUALIZADAS. Depois de as responsabilidades atribuídas e acordadas, não têm (eu diria, nem devem) ser discutidas na praça pública as estratégias e as acções de desenvolvimento do negócio por parte das Administração e Direcção. As da CMA, pela natureza deste órgão, deverão estar em permanente escrutínio nos órgãos próprios da Democracia’ [Pedro Coutinho]
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Julgo que seria interessante conhecer os documentos de orientação programática produzidos pelas últimas Direcções Artísticas do TA para podermos conhecer, analisar e perceber melhor as ideias, os conceitos e os projectos (será possível?). O que torna estas discussões difíceis ou complexas (e se calhar desmotivadoras) é a ausência de informação. Se queremos realmente envolver os cidadãos nestas reflexões é fundamental começar por mudar isso! [José Mota]
Dimensões do problema actual (do TA, da Cultura, da cidade)
' cenário de dificuldades é geral, mas em Aveiro não é de "apertar o cinto" que eu me queixo, mas sim do total desnorte e falta de rumo. Os outros equipamentos sempre vão fazendo algumas coisas e, mais importante que tudo, vão honrando os seus compromissos. Podem fazer pouco, muito menos que o que fizeram há alguns anos, mas o que fazem, fazem bem. É assim em Bragança, Vila Real, Famalicão, Guimarães, Estarreja, Ílhavo, Guarda, Torres Novas, Sines, etc embora o panorama seja de enorme penúria e desilusão em todo o lado' [Vasco Sacramento]
'É óbvio que se existisse uma qualquer estratégia o TA teria de ser a alavanca para a concretização da mesma, mas o abandono e o desprezo a que o TA tem estado sujeito, a constante desconsideração dos profissionais competentes que lá trabalham, a evidente erosão de um equipamento carente de manutenção, demonstram a ausência de qq política cultural. O TA é, hoje em dia, infelizmente, motivo de chacota "inter pares" pela constante instabilidade, pela incapacidade de cumprir os seus compromissos. É uma instituição pouco respeitável e que muito pouco se dá ao respeito (...) a verdade é que ninguém se interessa por isto e ninguém deverá estar muito interessado em discutir a questão. A cultura não dá votos (com excepção dos demagógicos e cobardes apoios às associações que, esses sim, garantem votos e consomem a maioria dos orçamentos das autarquias deste país) e a população está desligada do TA' [Vasco Sacramento]
a primeira questão que muita gente em Aveiro não entende é a diferença entre Teatro/Centro Cultural e Sala de Espectáculos. Um Teatro é suposto oferecer uma programação coerente e de elevada qualidade ao passo que uma Sala de Espectáculos normalmente funciona como um espaço de aluguer apenas, sem qualquer critério artístico. É o caso, por exemplo, dos Coliseus, do Teatro Tivoli ou da Aula Magna para referir exemplos conhecidos de todos. Nenhum Teatro do mundo pode viver sem um programador. Isso não existe. Mesmo salas de muito menor dimensão e ambição precisam de alguém que escolha a programação e que defina o rumo a seguir. A CMA não pretende nada do TA. O drama é exactamente esse. Em 5 anos não se conhece uma estratégia cultural, um plano a seguir, um projecto levado a cabo. [Vasco Sacramento]
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'Convém dizer que o drama que afecta o Teatro Aveirense afecta uma grande parte dos equipamentos culturais construídos ou reabilitados após as iniciativas dos anos Carrilho. A construção e inauguração destes equipamentos é muito bem vista pelos poderes locais, que vêm oportunidades de cortar fitas e ficam com salões de visitas cheios de "pinta", mas poucas são as autarquias que compreendem a natureza estratégica destes equipamentos e que estão disponíveis para fazer o trabalho de manter e programar estes espaços. Quem anda na "estrada" a montar espectáculos conhece bem este panorama. E é desolador' [João Martins]
'Enquanto não existir uma vontade consequente e pública por parte da autarquia, por mais danças de cadeiras que se façam, não existirá nenhum tipo de compromisso de médio ou longo prazo para com a estrutura, ou seja, não pode existir um projecto. E isso é verdade desde a reabertura do TA, na minha opinião'. [João Martins]
'Para lá da programação em concreto, falta e sempre faltou um vínculo entre a cidade e o Teatro que depende de compromissos públicos, negociados, informados e visíveis entre a cidade e o Teatro. É um trabalho que nos cabe a todos e sem o qual, independentemente da (pontual) maior ou menor qualidade e/ou coerência de programação, a cidade não sentirá nunca falta do Teatro e, por isso, ele nunca será capaz de cumprir o seu papel. Um problema político, no sentido mais nobre e completo do termo'. [João Martins]
'A inexistência de director artístico, nesta altura, reflecte de forma mais verdadeira a realidade do equipamento. É até preferível não existir director artístico enquanto não existir um projecto ou desígnio para o equipamento'. [João Martins]
'há estudos recentes que fazem mesmo isso e que apontavam, num passado muito muito recente, para um consenso sobre o elevadíssimo retorno do investimento em cultura. Daí nasce a propaganda das "indústrias criativas", daí nasce uma retórica de arrependimento pelas oportunidades perdidas e de promessas de um novo olhar para o sector. Mas quando a corda começa a apertar, talvez por bloquear o saudável fluxo de oxigénio para o sangue, muitos decisores públicos (e privados) esquecem todas as boas intenções e toda a racionalidade e cortam cegamente em qualquer investimento cujo retorno seja de médio ou longo prazo e cuja medição envolva um esforço um bocadinho maior do que contas de somar e subtrair no seu estreito livro de balanços' [João Martins]
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'O TA quando abriu tinha uma estratégia, que necessitava de tempo e investimento, assente naquilo que se acreditavam ser as redes, formais e informais, de programadores e criadores, podendo, dessa forma, garantir que a Aveiro chegaria o que 'de melhor' se produzia/apresentava em Portugal e no exterior'. [Ágata Fino]
'há que distinguir entre programar e ocupar datas num calendário, depois de separadas as águas podemos, então, questionar (quem de direito) o que quer para o TA, um espaço de programação ou uma 'sala de espectáculos''[Ágata Fino]
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'É pena que uma cidade como Aveiro que já teve dois teatros plenos de programação, não consiga hoje manter um único teatro com algum nível...temos mesmo que lamentar como a cultura é tratada'. [Maria de Lurdes Ventura]
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'Os potenciais utilizadores têm naturais expectativas quanto à oferta cultural do Teatro Aveirense (TA), variáveis segundo os diferentes tipos de público. Mas, para despertar o interesse de assistências, é fundamental a definição de uma estratégia adequada, competência dos responsáveis autárquicos para a área da Cultura, concretamente no domínio do Teatro. Nesse sentido, parece inadiável a nomeação de um Director Artístico que promova uma programação do TA, adequada aos objectivos deste equipamento municipal, visando a promoção cultural em Aveiro' [Manuel Janicas]
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'A programação cultural, principalmente quando se trata de programação de qualidade, é suposto dar prejuízo na maior parte dos casos. Por isso é que há apoios do Ministério da Cultura e dos seus Institutos, para fazer a diferença entre os custos dessa programação e a bilheteira. Eu também gostava muito que as bilheteiras do TA e de todas as outras instituições que executam uma programação de qualidade, conseguissem ser suficientes para os custos, mas não são. Nem Instituições a nível nacional conseguem tal proeza, mesmo conseguindo chegar a um público nacional, quanto mais um teatro distrital'. [José Fernandes]
(…)
'O desafio é complicado. Passará certamente por outro caminho que não o que eu idealizo, mas temos que começar a integrar soluções. A ocupação da mais emblemática sala de espectáculos tem que resolver mais do que apenas a oferta cultural' [João Casanova]
'Há uma escola ao lado do teatro aveirense, com cada vez menos alunos. Porque não tentar ‘colocar ali’ o Conservatório ou o DECA (componente música) ali?, com as devidas adaptações como é óbvio. Porque não ceder mais umas salas para uns grupos de teatro amador daqui de Aveiro?'
(...)
Vamos falar do que se queira, de qual o peso do orçamento cultural, da sua proveniência, da forma de actuação e de prioridades... parece é que ninguém está interessado nisso [João Oliveira]
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'O problema não me parece ser financeiro mas estratégico. A cultura pode ser um sector relevante na projecção da imagem da cidade no contexto nacional com repercussões na sua vida social e económica (ver caso de Guimarães e da sua aposta continuada e coerente na cultura (e no seu CC Vila Flor) - em 2012 vai ser Capital Europeia da Cultura). Portanto antes de discutir dinheiros eu gostaria de discutir opções de desenvolvimento da cidade' [José Mota].
(...)
[Sobre o valor da cultura] alguns exemplos do para a reflexão: O SECTOR CULTURAL E CRIATIVO EM PORTUGAL (http://www.portaldacultura.gov.pt/SiteCollectionDocuments/Imprensa/SCC.pdf)
Measuring the value of culture - Dez 210 (http://www.culture.gov.uk/images/publications/measuring-the-value-culture-report.pdf). Muito sucintamente, o primeiro diz que o sector cultural e criativo em Portugal já vale mais do que a industria têxtil (seria interessante avaliar o que vale (e o potencial) o SCC na região de Aveiro). O segundo estudo diz 'cultural sector will need to use the tools and concepts of economics to fully state their benefits in the prevailing language of policy appraisal and evaluation'.
[artigo de opinião]
Reacção de Pedro Jordão às declarações do Dr. Nuno Marques Pereira sobre o Teatro Aveirense
Por um Teatro Aveirense verdadeiramente plural.
Tomei conhecimento, através do site da Rádio Terranova, das declarações que o Dr. Nuno Marques Pereira, deputado do PS na Assembleia Municipal, proferiu recentemente sobre o Teatro Aveirense. Li-as com o maior interesse mas, devo admitir, com alguma incredulidade. Se todos partilhamos das suas preocupações acerca da situação financeira do Teatro Aveirense, sem que por isso deixemos de implementar as medidas necessárias à sua estabilização, já no que toca às suas considerações sobre a actual programação não posso, nem devo, deixá-lo sem resposta.
Talvez movido por uma ideia pré-concebida sobre quem trilhou, de facto, um percurso público na programação cultural dirigida essencialmente a públicos mais específicos, o Dr. Marques Pereira considera que “neste momento, assiste-se a uma programação mais alternativa em relação a um passado mais recente”. Merece, da minha parte, a mais frontal discordância. Se fosse meu propósito criar uma programação mais “alternativa”, as suas declarações não me suscitariam qualquer reacção. Mas, como frisei desde o início e como acredito que a minha programação se tem encarregado de demonstrar, a actual estratégia do Teatro Aveirense visa a obrigatória abrangência de públicos e sensibilidades que um equipamento público como o Teatro Aveirense tem que expressar e que, felizmente, muitos têm reconhecido.
Estamos, parece-me, de acordo quanto ao objectivo do Teatro Aveirense, ainda que não na análise das medidas já implementadas. Olhando para a programação do primeiro trimestre de 2010 do Teatro Aveirense, devo dizer que me parece tão evidente a coexistência entre espectáculos de grande público e de espectáculos destinados a públicos específicos, que as declarações do Dr. Marques Pereira me levam a duvidar de uma análise escrupulosa da sua parte relativamente ao que tem sido a acção do Teatro Aveirense no início desta sua nova fase. Um olhar atento encontraria facilmente uma procura de diversidade que inclui ainda preocupações quanto às diferentes faixas etárias e às diferentes sensibilidades, quanto ao equilíbrio entre as várias áreas artísticas e quanto à existência de um serviço educativo de qualidade (e, diga-se, de grande participação).
De qualquer modo, não estou certo de que o Dr. Marques Pereira tenha um entendimento claro da sua própria expressão – “programação alternativa”. Por exemplo: o esgotadíssimo concerto de Legendary Tiger Man, com o seu blues rock “alternativo” mas com uma popularidade já completamente “mainstream”, insere-se ou não nessa noção vaga de “programação alternativa”? E um concerto de música clássica, claramente um nicho de público, que tenha uma adesão de apenas algumas dezenas de pessoas? Onde é que se enquadra nesta história?
E como é que pode ser considerada “programação alternativa” ter uma peça de teatro de grande qualidade com as grandes (e amplamente conhecidas) Custódia Gallego ou Ana Bustorff? Ou um concerto de fado de Carminho ou um concerto de Tiago Bettencourt, claramente espectáculos de grande público, sem qualquer desmerecimento da sua evidente qualidade? Ou uma peça de dança de Wim Vandekeybus, provavelmente o maior nome da dança europeia e que, com grande honra nossa, veio a Aveiro encontrar uma plateia cheia e rendida e lançar o nome da cidade nas páginas de todos os jornais nacionais na última semana? E pode criticar-se um ciclo de cinema a custo zero de Agnès Varda, apresentado com destaque nacional no último DocLisboa, por exemplo? Ou o que se está a dizer é que nada de mais “alternativo” pode ser programado? Que a obrigatória diversidade do Teatro Aveirense, para o Dr. Marques Pereira, pára aí? E porquê, a partir de que lógica cultural ou económica?
Devo ainda dizer que quanto à relação investimento/retorno dos diferentes espectáculos, o Dr. Marques Pereira tem uma ideia completamente desfasada da realidade. Apesar de não estar a ser feita uma “programação alternativa”, os espectáculos a que as pessoas associam a expressão são, não raras vezes, o que melhores números conseguem a esse respeito. Para além de se referirem aos públicos mais militantes, com mais rotinas culturais. O Dr. Marques Pereira, do qual eu não esperava uma postura tão conservadora e precipitada, fala de números sem conhecer um único. Se em vez de ditar sentenças empiricamente se apoiasse em factos, estou certo de que não teria proferido as declarações que hoje se conhecem. Por outro lado, a renovação gráfica do Teatro Aveirense, não só me parece ter tido uma clara melhoria, como está perfeitamente na linha dos principais teatros do país, sem que eu perceba em que possa ser, também ela, mais “alternativa”. Posso ainda revelar que os números, ainda que preliminares ao fim de apenas 2 meses, indiciam uma melhoria dos indicadores (custos, receitas, espectadores) relativamente ao mesmo período de 2009.
Resumindo: a estratégia de programação foi clara desde o início: trabalhar realmente todos os públicos, com qualidade e diversidade, de modo ao Teatro Aveirense assumir o seu papel natural como principal equipamento cultural da região, sem deixar de lhe conferir uma maior visibilidade a nível nacional. Talvez seja ainda extemporâneo estar a julgar um percurso no seu início, mas o tempo encarregar-se-á de provar quem teve a visão mais clara sobre esta causa de todos. Até lá, o debate, ao qual nunca me furtarei, será sempre salutar.
Aveiro, 1 de Março de 2010
Pedro Jordão, Director Artístico do Teatro Aveirense
Concerto Mikado Lab // 8 Abril // 22.30h // Teatro Aveirense
concerto do ciclo Música Fora de Horas, a acontecer no próxima quarta-feira, dia 8 de Abril, pelas 22.30h.
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